Tintas de terra: como fazer, tipos e cores

Imagine a textura fina de partículas de terra escorrendo por entre os dedos, um espectro de tons quentes que ecoa o próprio coração do planeta. Desde os tempos das cavernas, a terra foi o primeiro pigmento, transformando o banal em arte. Hoje, reviver essa prática ancestral não é apenas um gesto estético, mas um compromisso com a sustentabilidade e a originalidade. Fazer tintas com terra é mais do que técnica; é uma reconexão profunda com o solo que sustenta nossas vidas.

Há algo profundamente ancestral em sujar as mãos de terra. A textura áspera que desliza entre os dedos, os tons ocres que contam histórias de erosão e tempo, e o cheiro único que evoca memórias de chuva. Produzir tintas a partir da terra é como dialogar com o planeta, traduzindo suas nuances em pigmentos vivos. É criar uma ponte entre o natural e o construído, o orgânico e o projetado.
Para arquitetos, a tinta de terra transcende a função decorativa. É matéria-prima poética, capaz de transformar superfícies em narrativas. Ela carrega em si o DNA do lugar, capturando a essência do solo e transportando-a para os espaços que habitamos.

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Um legado preservado no solo

Desde as primeiras marcas deixadas em cavernas até murais contemporâneos, a terra foi o pigmento inaugural da humanidade. Carregava histórias, mapeava territórios e simbolizava identidades. Civilizações antigas, como os povos mesoamericanos e as culturas mediterrâneas, encontraram no solo mais do que sustento: uma paleta infinita de possibilidades criativas.
Hoje, a redescoberta dessa prática reflete um anseio por autenticidade e sustentabilidade, valores que ressoam profundamente com a arquitetura contemporânea. A tinta de terra não é apenas uma escolha técnica, mas uma afirmação cultural e ambiental, um lembrete de que o futuro pode ser desenhado com as lições do passado.

A arte de pintar com o mundo

Arquitetura é, em sua essência, o ato de moldar o espaço a partir da terra. Com a tinta feita de solo, essa relação torna-se literal. Cada camada aplicada carrega as marcas da origem, as texturas do tempo e a poesia do lugar. Não é apenas cor; é contexto.
Permita-se experimentar. Deixe que o solo do mundo pinte suas obras, trazendo à tona uma estética que é, ao mesmo tempo, visceral e sublime. Afinal, cada edifício é uma extensão da terra — por que não deixá-la contar sua história?

Como fazer tintas com terra?

Materiais Necessários:

•Terra (de preferência peneirada para remover partículas maiores)

•Água

•Aglutinante natural (como cola de caseína, cola de farinha ou óleo de linhaça)

•Pigmentos opcionais (para ajustar o tom, se desejado)

•Peneira fina ou pano

•Recipientes para misturar


Passo a Passo:

1. Coleta e preparação da terra

Escolha terras de diferentes locais para explorar variações de cor. Após coletar, seque ao sol e peneire para obter uma textura uniforme.

2. Mistura do pigmento

Em um recipiente, misture a terra peneirada com água até formar uma pasta espessa. Ajuste a consistência conforme a necessidade.

3. Adição do aglutinante

Adicione o aglutinante escolhido à mistura. A cola de caseína, por exemplo, proporciona uma boa aderência e durabilidade. Misture bem até obter uma consistência homogênea.

4. Ajuste da cor (Opcional)

Caso deseje modificar os tons, adicione outros pigmentos naturais como carvão, cinzas ou óxidos metálicos.

5. Aplicação e secagem

Aplique a tinta com pincel ou espátula. Teste a aderência em superfícies como madeira ou gesso e ajuste a fórmula, se necessário.


Dicas para um resultado perfeito

Teste de cores: Antes de pintar, teste em uma pequena superfície para verificar o tom e a textura.

Textura e diluição: Se preferir um acabamento mais rústico, deixe a mistura mais densa; para uma aparência lisa, dilua com mais água.

Selagem: Para áreas expostas a umidade, finalize com um selador natural como cera de abelha ou óleo de linhaça.

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Tipos de terra, cores e onde encontrá-las

Tons amarelados: a pureza da argila

Cor: Amarelo claro a dourado.
Tipo de solo: Solo argiloso com alta concentração de goethita, um mineral de óxido de ferro hidratado.
Onde encontrar: Comum em regiões subtropicais e tropicais, como áreas de cerrado no Brasil e partes do Mediterrâneo. Solos desse tipo são geralmente bem drenados e encontrados próximos a cursos d’água ou em encostas suaves.
Mas também possível de encontrar no hemisfério norte, como essa foto abaixa feita no Arizona.

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Terracota e marrons profundos: a elegância da terra

Cor: Tons que variam entre o terracota, marrom claro e marrom profundo.
Tipo de solo: Solos argilosos ricos em matéria orgânica e minerais de ferro e manganês.
Onde encontrar: Comuns em regiões de transição entre florestas tropicais e zonas semiáridas, como o nordeste brasileiro, a região da Toscana, na Itália, e o sudoeste dos Estados Unidos.

Ocres vermelhos: A força do ferro

Cor: Vermelho vibrante e intenso.
Tipo de solo: Solos lateríticos e argilosos ricos em hematita, um óxido de ferro característico de regiões quentes e úmidas.
Onde encontrar: Abundantes em regiões tropicais e equatoriais, como o interior do Brasil, a Índia e partes da África. Essas terras são típicas de áreas de floresta tropical ou savana.

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Foto: Sheena Callage 

Brancos e cinzas: a sobriedade mineral

Cor: Branco suave a cinza claro.
Tipo de solo: Solos calcários ou argilosos ricos em caulim, um tipo de argila branca composta por silicato de alumínio.
Onde encontrar: Presentes em regiões calcárias ou próximas a antigas formações marinhas. Exemplos incluem o sul da França, o cerrado brasileiro em áreas calcárias, e partes do sudeste da Ásia, como a Tailândia.

Tons alaranjados: A versatilidade do óxido de ferro

Cor: Alaranjado quente, intermediário entre o amarelo e o vermelho.
Tipo de solo: Solos argilosos ou arenosos com alta concentração de limonita e goethita.
Onde encontrar: Frequentes em regiões semiáridas, como o sertão do Nordeste brasileiro e partes do Saara, na África.

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Preto e cinza escuro: a profundidade vulcânica

Cor: Preto intenso a cinza escuro.
Tipo de solo: Solos vulcânicos ricos em basalto e cinzas vulcânicas, muitas vezes encontrados em áreas de relevo recente ou próximo a vulcões ativos ou extintos.
Onde encontrar: Regiões vulcânicas como o Havaí, partes da Islândia, a região dos Andes, na América do Sul, e o sul da Itália, próximo ao Monte Etna.

A relação entre cor, solo e identidade local

Cada tipo de terra e suas cores refletem as condições únicas do ambiente em que se formaram. Incorporar essas cores em projetos arquitetônicos não só celebra a diversidade natural, mas também reforça um vínculo profundo com o território. Utilizar pigmentos originários da própria região do projeto é uma forma de honrar a história e a paisagem local, criando espaços que dialogam de maneira autêntica com o ambiente ao redor.

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